quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SACERDOTISA ENHEDUANA

Como já descrevemos anteriormente, a Deusa Inanna, oriunda da antiga civilização da Suméria, em sua beleza celestial, era venerada como Deusa da Lua. O primeiros trabalhos a serem escritos e preservados sobre essa Deusa eram de autoria de Enheduana, nascida em 2.300 a. C, uma sacerdotisa da Deusa Lua.



Seus escritos em forma de poesia, assemelham-se mais a um diário pessoal, repleto de adoração à Deusa da Lua, de sublevações políticas, de sua expulsão do templo e de seu retorno a ele. Escreve com sensualidade e intimidade sobre a Deusa do Amor Inanna.



Eis algumas de suas palavras sobre a imagem da Deusa Inanna e das essências divinas:







"Senhora de todas as essências, cheia de luz,



Boa mulher, vestida de esplendor,



Que possui o amor do céu e da terra,



Amiga do templo de An,



Tu usas adornos maravilhosos,



Tu desejas a tiara da alta sacerdotisa



Cujas mãos seguram as sete essências.



Ó minha Senhora, guardiã de todas as boas essências,



Tu as reuniste e as fizeste emanar de tuas mãos.



Tu colheste as essências santas e as trazes contigo,



Apertadas em teus seios."















Enheduana também experimenta poderosa cólera e fúria para com a Deusa do Amor, a Deusa da Lua em sua fase negra:







"Como dragão, encheste a terra com veneno.



Como trovão, quando bradas sobre a terra,



Árvores e plantas caem diante de ti.



És o dilúvio descendo da montanha,



Ó Deusa Primeira,



Inanna, Deusa da Lua, que reina sobre o céu e a terra!



Teu fogo espalha-se e cai sobre a nossa nação.



Senhora montada numa fera,



An te dá qualidades, poderes sagrados,



E tu decides.



Estás em todos nossos grandes ritos.



Quem pode compreender-te?"















Quando um novo governante (Lugalanae) assumiu o poder, mudou todos os rituais sagrados. A sacerdotisa Enheduana foi banida do templo e escreve então sobre seu desespero de tal perda:







"Tu pediste-me para entrar no claustro santo, o"giparu",



E eu entrei nele, eu, a alta sacerdotisa Enheduana!



Eu carreguei a cesta do ritual e cantei em seu louvor.



Agora encontro-me banida, em meio aos leprosos.



Nem mesmo eu consigo viver contigo.



Sombras penetram a luz do dia,



A luz escurece à minha volta,



Cobrindo o dia com tempestades de areia.



Minha suave boca de mel torna-se repentinamente confusa.



Minha linda face agora é pó."















Mas Enheduana logo em seguida, retorna à sua condição inicial, e recupera novamente a alegria, a beleza e o relacionamento com a Deusa:







"A Primeira Senhora da sala do trono,



Aceitou a canção de Enheduana.



Inanna a ama novamente.



O dia foi bom para Enheduana, pois ela vestiu-se de jóias.



Ela vestiu-se com a beleza própria das mulheres.



Como os primeiros raios do luar sobre o horizonte,



Quão exuberante ela se vestiu!



Quando Nana, pai de Inanna,



fez sua aparição,



O palácio abençoou Ningal, mãe de Inanna.



Da soleira da porta celeste veio a palavra:



"Bem-vinda!".















Os escritos de Enheduana são muito importantes, pois trazem à luz a profunda devoção de uma mulher humana, sacerdotisa, à Deusa do Amor. Enheduana vive sua beleza e sensualidade como dádivas concedidas pela Deusa. No momento em que ela não pode mais venerá-la no templo, sente o vazio obscuro e sombrio, e sua própria imagem da Deusa, sua radiante beleza feminina fica encoberta.







Através da fantasia poética de Enheduana e de seus relatos históricos sobre a Deusa Inanna, podemos entender com mais clareza o significado dos rituais religiosos em que ela era a figura mais importante e decisiva. Ainda assim, Inanna permanece um mistério, em grande parte porque a nossa atitude moderna torna mais difícil para nós agarrarmo-nos àquilo que vemos como paradoxo em sua imagem: sua natureza sexual era um aspecto integral de sua natureza espiritual. Para a maioria de nós, tal conjunção é uma contradição. Nos tempos antigos, no entanto, era unidade.

Nenhum comentário: